UA-40840920-1

sábado, 19 de outubro de 2013

Sobre o valor das coisas (que não é o seu custo)

Se alguma vez derem por mim com um olhar de autismo momentâneo, despertado por uma incredulidade de quem não sabe onde se veio meter, é porque estou, muito provavelmente, no meio de uma conversa sobre qualquer assunto que desperta o meu alter ego que cedeu ao cansaço da luta. Não é frequente, as pessoas ainda me vêem como a idealista revoltada que quer mudar o mundo (salvo seja), mas acontece. E com algumas pessoas mais vezes do que com outras. As conversas sobre dinheiro são, consistentemente, um gatilho comum.  

Na realidade , não é propriamente "falar sobre dinheiro", sobre a economia do país, ou sobre o capital em si. Mas sim a listagem vazia e autocomplacente de tudo o que se gastou, do dinheiro que se deu, ou sobre o custo de uma prenda que, "generosamente", foi oferecida. Não vejo no dinheiro em si a razão de todos os males, nem acredito que o mundo seria melhor ou pior sem ele. Não sou de todo uma purista que não gosta de gastar e que trata tudo o que é material como se do satanás se tratasse. Mas faz-me confusão a promiscuidade com que, muitas pessoas, associam o custo de algo com o seu valor.

Valor e custo de algo não são, nem nunca serão, a mesma coisa. Parece introdução à gestão ou ao marketing, algo básico, mas que muitas pessoas não sabem. Queiramos ou não. Não me interessa, portanto, quantos euros fulano ou sicrano deu por determinada coisa, mas sim o grau de satisfação que tal coisa proporciona a todos a quem afecta.  Não me interessa quem tem mais, mas sim quem sabe e quer ser mais, o que luta por ser melhor, por tentar ir além e tornar a sua vida mais do que um percurso vazio num cimento sequíssimo, que não deixa pegadas. Não me interessa quanto se tem no banco, se não se sabe dar, nem reconhecer como se ganhou (O que nem sempre depende de si mesmo, mas de outros, que passam despercebidos).

Daí o meu silêncio desistente quando, passados alguns argumentos, ainda ouço que o "dinheiro faz amigos", e que, quem não o tem, nada é. Quando, depois de me oferecerem algo que queria há muito, ouço "um pedaço de plástico tão caro" (mas, para mim, de valor incalculável). Quando gozam com alguém que reclama de 2,5€ que se pagou num café (mau), como se a pessoa fosse uma desgraçada pobretanas.

Tudo porque, quem o diz, não entende que as coisas, as acções, a vida, têm valor, que não é directamente relacionada com o custo delas, nem é igual para todos. Eu não valorizo nem um pouco algumas "extravagâncias" de outras pessoas, nem os seus carros, nem os seus telemóveis. Gosto das minhas coisas, e, quem me conhece, sabe que tão depressa me entusiasmo com algo mais caro, quanto com um quadro natural, artesanal, simples, dado com o carinho daqueles que querem, com ele, transmitir todo o amor do mundo.  Ou com a "mera" presença de alguém que vem de longe só para nos abraçar. Assim, sem preço. Mas com imenso valor.

Eu reclamaria por 2,5 € num mau café, mas não por 150 euros (ou quantos fosse, se pudesse) dados à companhia aérea que me permitiu fazer uma surpresa à minha avó nos 80 anos dela. Inesquecível. Porque tudo tem o seu valor, e há coisas que valem, e muito mais, o seu preço, independentemente de qual seja, e outras que são completamente escusadas, mesmo que custem um euro. E o dinheiro não nos vale de nada se não soubermos distingui-las. 

Por isso, se me virem no meio de uma conversa, no final de uma refeição, ou noutro momento, alienada do mundo, é porque, muito provavelmente, o valor da pessoa que há em mim se cansou de mostrar que não se interessa pelo preço que está na etiqueta com que algumas, outras, insistem em marcar a sua vida. Temos pena (ou não), mas sou assim. 

5 comentários:

  1. Absolutamente de acordo. O caro e o barato são conceitos usados com leviandade, de forma absoluta.
    Eu não gosto especialmente de dinheiro mas adoro o que ele me permite fazer. E também sei que há outras coisas que o dinheiro não compra. Adoraria que todos pudéssemos fazer essa distinção; infelizmente, enquanto houver gente que não sabe se terá o que comer quando a barriga der horas, a diferença conceptual está apenas ao alcance dalguns (nos quais, sortuda, me incluo). :(

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Concordo. :) Sobre as desigualdades que o dinheiro reflecte (porque acredito que, quem as cria são as pessoas e o seu individualismo direccionado ao próprio umbigo), há tanto pano para mangas, que sairia daqui um polvo confuso, revoltado, pronto a bombear tinta para quem passasse à minha frente com discursos de suposta "meritocracia", e que, com esforço, todos conheceriam essa diferença.

      Eliminar
  2. Adorei Margarida. Um bocadinho sobre o assunto que abordámos rapidamente no outro dia. Escusado será dizer que sou da mesma opinião que tu. Mais posts destes please, que eu gosto!! E já agora também gostava de escrever como tu!! :D

    ResponderEliminar
  3. Gostei! Ultimamente tenho refletido sobre isso e tentado melhorar a maneira com que gasto e ganho meu dinheiro, para que esses processos maximizem minha satisfação, e não minha conta no banco ;)
    Mas para além da relação com os outros, e da visão dos outros sobre isso, vejo que tenho ainda que evoluir na minha própria visão de valor.
    E para os "etiquetistas" de plantão, o olhar vazio basta, ou manda-se logo pastar =P

    ResponderEliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...